quarta-feira, 15 de junho de 2016

Quando Eu Amo Nem O Amor Me Aguenta!

Quando eu amo, eu sou o meu amor. E não importa o quanto eu já tenha me decepcionado estarei sempre amando um “este é diferente”. Porque quando eu amo, o amor tem o cheiro da fruta-do-conde; tem gosto de suspiro, é alvinitente como a lua cheia; tem a fala mansa como uma cantilena repousaste sobre o rio e um olhar benevolente que me conduz a ouvir uma nota de piano tocada em dó.
Meu amor é tamanho: vive apinhado aqui dentro do meu peito evocando tessituras de amarga saudade. Mas, a minha saudade não é amarga, já disse, tem gosto de suspiro… É mansa como um “não sei o quê”, desses “não sei os quês” que chegam pra ficar e gente acha bom, porque nos conduz ao lugar onde o amado mora.
Quando amo, o amor não me aguenta. Porque quando amo eu sou o amor. Dou-lhe o meu “eu’ mais bonito, minha voz meiga, meu riso mais infante, meu canto feliz, meus melhores beijos… Quando amo, assombro o amor com mimos tantos: eu não tenho dores, nem sonhos, objetivos ou quaisquer expectativas senão fazer o amor sentir-se mais amado. Quando amo, aprisiono-me para deixar o amor livre: na maioria das vezes ele não volta.
Quando amo, dou ao meu amor minhas vestes de cetim – todas elas – azules, douradas, alvas e rubras… Dou-lhe todas às minhas habilidades: desjejum de seiva em conta-gotas, lençóis de musgos escardeados e a cantarola em gestos de uma serpente. Presenteio-lhe com minhas multicores e o amado se transforma em arco-íris. Dou-lhe, também a iridescência de uma bolha de sabão e o amado infla e eu, sem vida própria, estouro em preto e branco. 
Clara Dawn
Inspirada nos poemas de Yêda Schmaltz.

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