Quando eu amo, eu
sou o meu amor. E não importa o quanto eu já tenha me decepcionado estarei
sempre amando um “este é diferente”. Porque quando eu amo, o amor tem o cheiro
da fruta-do-conde; tem gosto de suspiro, é alvinitente como a lua cheia; tem a
fala mansa como uma cantilena repousaste sobre o rio e um olhar benevolente que
me conduz a ouvir uma nota de piano tocada em dó.
Meu amor é
tamanho: vive apinhado aqui dentro do meu peito evocando tessituras de amarga
saudade. Mas, a minha saudade não é amarga, já disse, tem gosto de suspiro… É
mansa como um “não sei o quê”, desses “não sei os quês” que chegam pra ficar e
gente acha bom, porque nos conduz ao lugar onde o amado mora.
Quando amo, o amor
não me aguenta. Porque quando amo eu sou o amor. Dou-lhe o meu “eu’ mais bonito,
minha voz meiga, meu riso mais infante, meu canto feliz, meus melhores beijos…
Quando amo, assombro o amor com mimos tantos: eu não tenho dores, nem sonhos,
objetivos ou quaisquer expectativas senão fazer o amor sentir-se mais amado.
Quando amo, aprisiono-me para deixar o amor livre: na maioria das vezes ele não
volta.
Quando amo, dou ao
meu amor minhas vestes de cetim – todas elas – azules, douradas, alvas e
rubras… Dou-lhe todas às minhas habilidades: desjejum de seiva em conta-gotas,
lençóis de musgos escardeados e a cantarola em gestos de uma serpente.
Presenteio-lhe com minhas multicores e o amado se transforma em arco-íris.
Dou-lhe, também a iridescência de uma bolha de sabão e o amado infla e eu, sem
vida própria, estouro em preto e branco.
Clara Dawn
Inspirada nos
poemas de Yêda Schmaltz.
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