Eu sei, não te conheço mas existes.
Por isso os deuses não existem, a
solidão não existe e apenas me dói a tua ausência
como uma fogueira ou um
grito.
Não me perguntes como mas ainda me lembro quando no outono
cresceram no teu peito duas alegres laranjas
que eu apertei nas minhas mãos e
perfumaram depois a minha boca.
Eu sei, não digas, deixa-me
inventar-te.
Não é um sonho, juro, são apenas as
minhas mãos sobre a tua nudez como
uma sombra no deserto.
É apenas este rio que me percorre há
muito e desagua em ti,
Porque tu és o mar que acolhe os meus
destroços.
É apenas uma tristeza inadiável, uma
outra maneira de habitares
Em todas as palavras do meu canto.
Tenho construído o teu nome com todas
as coisas.
Tenho feito amor de muitas maneiras,
Docemente,
Lentamente,
Desesperadamente
À tua procura, sempre à tua procura
Até me dar conta que estás em mim,
Que em mim devo procurar-te,
E tu apenas existes porque eu existo
E eu não estou só contigo
Mas é contigo que eu quero ficar só
Porque é a ti,
A ti que eu amo.
Joaquim Pessoa
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