quinta-feira, 23 de junho de 2016

Não te conheço... mas existes!

Eu sei, não te conheço mas existes.
Por isso os deuses não existem, a solidão não existe e apenas me dói a tua ausência 
como uma fogueira ou um grito.
Não me perguntes como mas ainda me lembro quando no outono 
cresceram no teu peito duas alegres laranjas 
que eu apertei nas minhas mãos e perfumaram depois a minha boca.
Eu sei, não digas, deixa-me inventar-te.
Não é um sonho, juro, são apenas as minhas mãos sobre a tua nudez como 
uma sombra no deserto.
É apenas este rio que me percorre há muito e desagua em ti,
Porque tu és o mar que acolhe os meus destroços.
É apenas uma tristeza inadiável, uma outra maneira de habitares
Em todas as palavras do meu canto.
Tenho construído o teu nome com todas as coisas.
Tenho feito amor de muitas maneiras,
Docemente,
Lentamente,
Desesperadamente
À tua procura, sempre à tua procura
Até me dar conta que estás em mim,
Que em mim devo procurar-te,
E tu apenas existes porque eu existo
E eu não estou só contigo
Mas é contigo que eu quero ficar só
Porque é a ti,
A ti que eu amo.

Joaquim Pessoa


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