“E a vida sempre me doeu, sempre
foi pouco, e eu infeliz.
A certos momentos do dia
recordo tudo isso e apavoro-me,
Penso em que é que me ficará
desta vida aos bocados, deste auge,
Desta estrada às curvas, deste
automóvel à beira da estrada, deste aviso,
Desta turbulência tranquila de
sensações desencontradas,
Desta transfusão, desta
insubsistência, desta convergência iriada,
Deste desassossego no fundo de
todos os cálices,
Desta angústia no fundo de
todos os prazeres,
Desta saciedade antecipada na
asa de todas as chávenas,
Deste jogo de cartas fastiento
entre o Cabo da Boa Esperança e as Canárias.
Não sei se a vida é pouco ou
demais para mim.”
Fernando Pessoa.
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