Não mendigue amor, não peça pra
gostar, não implore pra ficar. Amor fruto de mandinga e pena, não vale nem um
poema. Ele é falso, triste, pesado, duro. A gente carrega achando que é o
melhor que se pode ter e depois descobre que sem ele somos melhores. Somos
livres, leves e abertos para esperar o que nos cabe e não o que, até agora, nos
coube.
Atenção,
carinho, respeito, desejo, amor…nada disso pode ser imposto, pedido e
implorado, pois, na medida que mendigamos sentimentos, o sentir deixa de fazer
sentido. Doar-se ao outro e a tudo que ele oferece deve acontecer sem regras,
sem solicitações, sem restrições, sem indicações. Ele simplesmente deve
acontecer!
(E
inclusive deve também ter o direito de, talvez, nunca acontecer)
Mas aí
demora, a gente dá uma forçada aqui, outra lá… Finge ver o que não existe,
ouvir o que nunca foi dito. Nos esforçamos para acreditarmos em palavras
tortas, carinhos pequenos, entregas restritas. A gente tapa a boca, pra não
dizer o que grita; e os ouvidos, pra não ouvir aquela denúncia quase silenciosa
de que não há amor. Só ilusão. Só o desejo. Só o seu desejo de ser amado.
Algumas
pessoas passam anos amando de forma solitária e acreditando que o que sentem é
suficiente para alcançar e dar conta do florescer no território infértil do
outro. Elas projetam uma energia sem dimensão num projeto que começa fadado ao
erro, a dor e ao fim. A luta solitária e a rejeição de um primeiro amor
fundamental: o próprio.
Viver uma
relação onde há paixão, afeto, cumplicidade, respeito e querer de ambos já não
é fácil, imagina quando todos estes sentimentos concentram-se apenas de um
lado. Num pólo, o peso do querer irracional, do medo de ficar só e da
insegurança que diz que você não pode ter mais. No outro, o vazio. Não dá pra
saber o que é sentido na outra margem porque nossa querência exagerada não
permite enxergar o desejo do outro.
A pessoa
diz que não está feliz ao seu lado, que tem dúvidas, que anda perdido, que não
pode assumir nada sério, que não sabe o que sente… e você, no ímpeto de uma
onipotência absurda, toma as rédeas e se joga na batalha pra lutar por dois,
aliás, por três. Você, o outro e o ideal de amor que você criou, mas nunca
existiu.
Sobre o
amor, não há muito o que dizer, mas é importante pensar que: amor a dois é pra
ser compartilhado. Se for solitário, deve caber somente a uma pessoa: você.
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