terça-feira, 24 de maio de 2016

Como é frágil o ♥ humano!











 


























Achava que não podia ser magoada;
achava que com certeza era
imune ao sofrimento —
imune às dores do espírito ou à agonia.

Meu mundo tinha o calor do sol de abril
Meus pensamentos, salpicados de verde e ouro.
Minha alma em êxtase, ainda assim
conheceu a dor suave e aguda que só o prazer pode conter.

Minha alma planava sobre as gaivotas
que, ofegantes, tão alto se lançando,
lá no topo pareciam roçar suas asas
farfalhantes no teto azul do céu.

(Como é frágil o coração humano —
um latejar, um frêmito —
um frágil, luzente instrumento
de cristal que chora ou canta.)

Então de súbito meu mundo escureceu
E as trevas encobriram minha alegria.
Restou uma ausência triste e doída
Onde mãos sem cuidado tocaram e destruíram
minha teia prateada de felicidade.

As mãos estacaram, atônitas.
Mãos que me amavam, choraram ao ver
os destroços do meu firmamento.

(Como é frágil o coração humano —
espelhado poço de pensamentos.
Tão profundo e trêmulo instrumento
de vidro, que canta ou chora.)

Sylvia Plath.

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