segunda-feira, 23 de maio de 2016

Doses de Wislawa Szymborska, a Mozart da poesia!

Possibilidades.

Prefiro cinema.
Prefiro os gatos.
Prefiro os carvalhos nas margens do Warta.
Prefiro Dickens a Dostoievski.
Prefiro-me gostando dos homens
em vez de estar amando a humanidade.
Prefiro ter uma agulha preparada com a linha em caso de precisão.
Prefiro a cor verde.
Prefiro não afirmar que a razão é culpada de tudo.
Prefiro as exceções.
Prefiro sair mais cedo.
Prefiro conversar com os médicos sobre outra coisa.
Prefiro as velhas ilustrações listradas.
Prefiro o ridículo de escrever poemas
ao ridículo de não escrever.
Prefiro, quando o amor diz respeito, 
aniversários inespecíficos que podem ser comemorados todos os dias.
Prefiro os moralistas,que não prometem nada.
Prefiro a bondade esperta à bondade ingênua demais.
Prefiro a terra à paisana.
Prefiro os países conquistados aos países conquistadores.
Prefiro ter algumas reservas.
Prefiro o inferno do caos ao inferno da ordem.
Prefiro contos de fadas dos Grimms às manchetes de jornais.
Prefiro as folhas sem flores às flores sem folhas.
Prefiro os cães com o rabo não cortado.
Prefiro os olhos claros porque os tenho escuros.
Prefiro as gavetas.
Prefiro muitas coisas que aqui não disse,
e outras tantas não mencionadas aqui.
Prefiro os zeros à solta
a tê-los numa fila junto ao algarismo.
Prefiro o tempo do inseto ao tempo das estrelas.
Prefiro bater na madeira.
Prefiro não perguntar quanto tempo ainda e quando.
Prefiro manter em mente a possibilidade de que a 
existência tem sua própria razão de ser.

Wislawa Szymborska, in "Rosa do mundo".

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