sábado, 7 de maio de 2016

Tu eras um poeta. Eu era a tua poesia!


És parecida com a Terra. Essa é a tua beleza.
Era assim que dizias. 
E quando nos beijávamos e eu perdia respiração e, entre suspiros, perguntava: em que dia nasceste? 
E me respondias, voz trêmula: estou nascendo agora. 
E a tua mão ascendia por entre o vão das minhas pernas 
e eu voltava a perguntar: onde nasceste? 
E tu, quase sem voz, respondias: estou nascendo em ti, meu amor. 
Era assim que dizias. 
... tu eras um poeta. Eu era a tua poesia. 
E quando me escrevias, era tão belo o que me contavas 
que me despia para ler as tuas cartas. 
Só nua eu te podia ler. Porque te recebia não em meus olhos, 
mas com todo o meu corpo, linha por linha, poro por poro. 

                                                                                                   
                                                  Mia Couto

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