sábado, 3 de dezembro de 2016

Quem me dirá quem sou?


Não é ainda a noite
Mas é já frio o céu.
Do vento o ocioso açoite
Envolve o tédio meu.
Que vitórias perdidas
Por não as ter querido!
Quantas perdidas vidas!
E o sonho sem ter sido...
Ergue-te, ó vento, do ermo
Da noite que aparece!
Há um silêncio sem termo
Por trás do que estremece...
Pranto dos sonhos fúteis,
Que a memória acordou,
Inúteis, tão inúteis —
Quem me dirá quem sou?


Fernando Pessoa

[Arte: Tomasz Alen Kopera]

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