sábado, 24 de setembro de 2016

O que for, quando for, é que será o que é.

Quando vier a Primavera, 
Se eu já estiver morto,
 
As flores florirão da mesma maneira
 
E as árvores não serão menos verdes que na Primavera passada.
 
A realidade não precisa de mim.
Sinto uma alegria enorme
 
Ao pensar que a minha morte não tem importância nenhuma
Se soubesse que amanhã morria
 
E a Primavera era depois de amanhã,
 
Morreria contente, porque ela era depois de amanhã.
 
Se esse é o seu tempo, quando havia ela de vir senão no seu tempo?
 
Gosto que tudo seja real e que tudo esteja certo;
 
E gosto porque assim seria, mesmo que eu não gostasse.
 
Por isso, se morrer agora, morro contente,
 
Porque tudo é real e tudo está certo.
Podem rezar latim sobre o meu caixão, se quiserem.
 
Se quiserem, podem dançar e cantar à roda dele.
 
Não tenho preferências para quando já não puder ter preferências.
 
O que for, quando for, é que será o que é.


Alberto Caeiro, in “Poemas Inconjuntos”.
Heterônimo de Fernando Pessoa.

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